domingo, 6 de fevereiro de 2011

Espelhos...



Em Entre os Atos, Virginia Woolf, escritora inglesa moderna, brinca majestosamente com a História. De início a História da Inglaterra em vários atos (encenações teatrais) que se misturam aos fatos vivenciados pelos personagens do romance.  Esses atos vão representando as épocas vitais de uma Inglaterra vitoriana e vai coincidindo com a História universal, ou seja, de cada homem em particular. Fantasias são usadas – como na maioria dos teatros, para essas representações; mas então todos da platéia ficam curiosos, assim como nós espectadores/leitores, quando anunciam que irão representar a época vivenciada. A platéia de inicio não compreende os artifícios utilizados pela escritora da peça para chamar-lhes a atenção da qual necessita para transmitir a idéia que quer compartilhar. Excessões à parte, entendemos que nem todos os que por algum motivo debruça em um livro é por isso um bom leitor, assim como nem todos os que dedicam tempo a arte seja ela cenográfica, plástica, musical ou qualquer outra é necessariamente um ótimo deslumbrador ou atencioso o suficiente para captar todas as sutilezas apresentadas. Aprendemos a ler decodificando palavras e letras, mas é difícil ler silêncio e símbolos nele empregados.  Um pensamento de Borges torna-se importante aqui: “Até mesmo os sons articulados e brutais do globo devem constituir linguagens e códigos que, em algum lugar, tenham as legendas correspondentes – tenham a sua própria gramática e sintaxe; portanto, as menores coisas do universo devem ser os espelhos secretos das maiores” (grifo meu)
Espelhos. Espelhos refletem a imagem a eles expostas. Essa é a artimanha utilizada para (re)apresentar a época atual (para os personagens). Borges diz que “os espelhos e a paternidade são abomináveis, porque multiplicam e disseminam o Universo”. Os espectadores da peça sentiram isso na própria pele, - ou na consciência? Disseram-me que um dos efeitos característicos da arte é chocar, mexer com aquela parte da consciência que está acomodada, fazer pensar, levar a auto-reflexão. Pois bem, penso que até então nenhum dos espectadores havia pensado sobre o efeito de um reflexo de um espelho. Tudo bem se, se tratasse  do reflexo de uma coisa ou outra... Coisas que estamos acostumados a ver cotidianamente. Mas o espelho refletiu a própria platéia... O rosto e os fragmentos de cada um espectador presente. Nossa própria imagem... Cada expectador deixou de ver ao outro para perceber a sua própria existência... Então Virginia diz através de um de seus personagens: “...olhemos para nós mesmos damas e cavalheiros!” E concluo com outra frase de Borges: "Qualquer destino, por longo e complicado que seja, consta na realidade de um único momento: o momento em que o homem sabe para sempre quem é". 







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