"Dos moradores do sítio de Dona Benta o mais andejo era o Marquês de Rabicó. conhecia todas as florestas, inclusive o Capoeirão dos Taquaruçus, mato muito cerrado onde Dona Benta não deixava que os meninos fossem passear. Certo dia em que Rabicó se aventurou nesse mato em procura das orelhas-de-pau que crescem nos troncos podres, parece que as coisas não lhe correram muito bem, pois voltou na volada.
- Que aconteceu? perguntou Pedrinho ao vê-lo chegar todo arrepiado e com os olhos cheio de susto. - Está com cara de Marquês que viu onça...
- Não vi, mas quase vi! respondeu Rabicó tomando fôlego. - Ouvi um miado esquisito e dei com uns rastos mais esquisitos ainda. Não conheço onça, que dizem ser um gatão assim do tamanho de um bezerro. Ora, o miado que ouvi era de gato, mas muito mais forte, e os rastos também eram de gato, mas muito maiores. Logo era onça..."
Assim começa a aventura dos meninos do Sítio do Picapau Amarelo em busca de uma onça... onde deixam a bicharada numa confusão danada e Dona Benta e Tia Nastácia com os nervos à flor da pele...
Uma turma toda especial... Pedrinho o menino que só tem medo de vespa! rsrs... Narizinho, uma menina aventureira... Visconde de Sabugosa, todo científico... Emília, uma boneca asneirenta... Dona Benta, uma avó espirituosa e cuidadosa... Tia Nastácia, uma senhora devotada aos meninos e a sua cozinha... e ainda o Marquês de Rabicó com tosas as suas gulodices.
Não há como ler essa obra e não ficar fascinado por essa turma acompanhando cada passo de suas aventuras que quando terminam... já tem outra... agora o plano é uma caçada a um rinoceronte! - Pelos céus! eu pensei quando estava lendo... e, claro, torcendo para que tudo desse certo... e deu!
As façanhas de Emília, a esperteza e coragem de Narizinho e Pedrinho contribuíram para que o rinoceronte se tornasse mais um membro da família... e Dona Benta e Tia Nastácia se tornaram como as crianças, felizes apreciando os prazeres que a companhia do rinoceronte oferecia...
Nenhuma criança brasileira - ou tantas outras que tiverem a ventura de conhecer essa obra, deveria ser privada do prazer de ler Caçadas de Pedrinho... que não deixa de ser uma fortuna também para os adultos.
Admiro o Gênio de Lobato, pois, mais do que apresentar o racismo existente na sociedade em que viveu, muito longe de incentivar uma prática ecologicamente incorreta, ele usa a palavra e as ideias com arte, cria um cenário tipicamente brasileiro, mas cheio de estilo e sofisticação, posicionando a criança numa esfera de mundos fantasiosos cheio de imaginação e criatividade... conferindo a ela um pensamento infantil, mas rebuscado, ou seja, apostando na inteligência da criança o que diverge da ingenuidade e arrogância pueril que um leitor atento percebe em algumas obras que certos escritores dedicam ao público infantil.
A criança brasileira tem uma literatura riquíssima para apreciar... tomara que se deem conta disso...
Admiro o Gênio de Lobato,
A criança brasileira tem uma literatura riquíssima para apreciar... tomara que se deem conta disso...
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