sábado, 18 de setembro de 2010

Intertextualidade entre Borges e Victor Hugo.

O conto A Biblioteca de Babel que postei alguns trechos aqui e cuja fonte ficou ilegível ... corrijo: é da obra Ficções de Jorge Luis Borges. E hoje á vez de transcrevermos aqui as palavras de Vitor Hugo em seu engrandecimento ao Livro. Esse trecho é da obra O corcunda de Notre-Dame:

"...o gênero humano tem dois livros, dois registros, dois testamentos: a arquitetura e a imprensa, a bíblia de pedra e a bíblia de papel. Sem dúvida, quando se contemplam essas duas bíblias tão largamente abertas nos séculos, é permitido ter saudades da majestade vísivel da escritura do granito, esses gigantescos alfabetos formulados em colunatas, em pórticos, em obeliscos, essas espécies de montanhas humanas que cobrem o mundo e o passado, desde a pirâmide até o campanário, de Quéops até Estrasburgo. É preciso reler o passado sobre essas páginas de mármore. É necessário adimirar e folhear incessantemente o livro escrito pela arquitetura, mas não se deve negar a grandeza do edifício que, por seu turno a imprensa ergue.
Esse edifício é colossal. Não sei que fazedor de estatísticas calculou que pondo uns sobre os outros todos os volumes saídos do prelo desde Gutenberg se encheria o intervalo da Terra à Lua; mas é dessa espécie de grandeza que queremos falar. Quando se procura recolher no pensamento uma imagem total do conjunto dos produtos da imprensa até os nossos dias, esse conjunto não se nos antolha como uma imensa construção, apoiada sobre o mundo inteiro, na qual a humanidade trabalha sem repouso, e cuja cabeça monstruosa se perde nas brumas profundas do futuro? É o formigueiro das inteligências. É a coméia onde todas as imaginações, essas abelhas douradas, vão depor o seu mel. O edifício tem mil andares. Aqui e ali vê-se desembocar sobre suas rampas as tenebrosas cavernas da ciência que se entrecuaram nas suas entranhas... Aí cada obra individual, por caprichosa e isolada que pareça, tem o seu lugar e a sua projetura. A harmonia resulta do todo... É a segunda torre de Babel do gênero humano." p. 178-9.

O que está mais destacado aqui em Victor Hugo é a magestade da inteligência humana e as maneiras que usa para perpetuá-la...sabemos que desde os primórdios a humanidade deu um jeito em deixar seus registros... veja-se que esse romance histórico foi lançado, segundo Wikipédia, no ano de 1832 e suas estatísticas asseguravam que a quantidade de livros impressos encheria o intervalo entre a Terra e a Lua... e aí ele e Borges se encontram em um só pensamento: A segunda Torre de Babel do gênero humano. O que diria Victor Hugo se pudesse prever ou ter subsistido até os nossos dias? ou seja dois séculos depois... o número de livros impressos com certeza cresceu diria ele... e poderia preencher o espaço entre a Terra e... mas aí ele lembrou que a revolução tecnológica deteu o poder de miniaturizar em arquivos compactos e eletrônicos as obras escritas porque não havia mais espaço entre a Terra e Lua ... então a Humanidade criou outro mundo para edificar os seus livros... pensaria ele... o homem tem o dom da construção!

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

O universo

"O Universo (que outros chamam a Biblioteca) é composta de um número indefinido, e talvez infinito, de galerias hexagonais, com vastos poços de ventilação no meio, cercados por balaustradas baixíssimas... Eu afirmo que a Biblioteca é interminável...''Não há na vasta biblioteca dois livros idênticos'... Quando se proclamou que a Biblioteca abrangia todos os livros, a primeira impressão foi de extravagante felicidade. Todos os homens se sentiram senhores de um tesouro intacto e secreto. Não havia problema pessoal ou mundial cuja eloquente solução não existisse: em algum hexágono. o universo estava justificado, o universo bruscamente usurpou as dimensões ilimitadas da esperança...Os que o imaginam sem limites esquecem que não é ilimitado o número possível de livros. Eu me atrevo a insinuar esta solução do antigo problema: 'A Biblioteca é ilimitada e periódica'. Minha solidão se alegra com essa elegante esperança." Jorge Luis Borges


Comparar o Universo com Biblioteca ou vice-versa soa como uma metáfora tão bonita que basta o conto (A Biblioteca de Babel) por si mesmo para nos impressionar. As vezes temo que um comentário possa parecer insignificante perto dele; ele já parece dizer tantas coisas em sua própria linguagem que a atenta leitura já parece se encarregar de o significar... Não tenho certeza se devo, mas vou arriscar uma ligação entre esse Universo infinito de livros e o título do blog que também foi buscar inspiração em palavras do escritor.
Quando ele afirma que a Biblioteca é interminável, ilimitada, periódica e que abrange todos os livros, não dá mesmo uma sensação de felicidade? faz-nos esperar que em algum lugar do Universo existe o que estamos desejando no momento, seja uma resposta, uma nova ideia, uma emoção, uma solução... seria maravilhoso ter um livro total, e essa é uma das esperanças do contista; pelo que diz: "Rogo a aos deuses ignorados que um homem - um só, ainda que seja há mil anos! - o tenha examinado e lido." e é tão bonita sua modéstia quando continua..."Se a honra e sabedoria e a felicidade não são para mim, que sejam pra outros. Que o céu exista, embora meu lugar seja o inferno. Que eu seja ultrajado e aniquilado, mas que num instante, num ser, Tua enorme Biblioteca se justifique." Uma bela oração!

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

O Livro

"De todos os instrumentos do homem, o mais surpreendente é, sem dúvida nenhuma, o livro. " Jorge Luis Borges