sábado, 25 de dezembro de 2010

Feliz Natal


Os livros não ficam de fora no Natal... não mesmo!!!
há sempre uma lista de livros que nos acompanha o ano inteiro... livros lidos... por ler... que gostamos... que abandonamos... e há aqueles que compramos para presentear; livros que são presentes de Natal!!!
Minha lista de livros prediletos acolhe entre muitos, dois livros (obras) que eu acredito ser um presente de Charles Dinckes e Hans Christian Andersen para a humanidade deslumbrar precisamente nessa época do ano... eu falo de Cânticos de Natal e A Pequena Vendedora de Fósforos.

Meus livros fazem parte do meu Natal e por isso se arrumam assim...



Aqueles que não puderam fazer parte da árvore tiveram outra ideia... formaram os presentes.

sábado, 18 de dezembro de 2010

O Príncipe Feliz - Oscar Wilde

Bem no alto da cidade, numa alta coluna, erguia-se a estátua do príncipe feliz. Era todo coberto de finas folhas de ouro puro, tinha nos olhos duas safiras brilhantes, e um grande rubi vermelho reluzia no cabo de sua espada.
Na verdade era muitissimo admirado.
- É tão belo quanto um cata-vento - observou um dos conselheiros da cidade, que desejava ganhar reputação por ter gosto artistico -; só não é muito útil - acrescentou, temendo que o povo o considerasse pouco prático, o que realmente não era.
- Por que você não pode ser como o princípe feliz? - perguntou uma mãe ao filho que pedia a lua. - O príncipe feliz nunca chora por motivo algum.
- Fico satisfeito que haja alguém no mundo que seja realmente feliz - murmurou um homem desapontado, enquanto fitava a estátua maravilhosa.
Parece mesmo um anjo - disseram as crianças da Escola de Caridade, ao saírem da catedral em seus mantos escarlates e aventais alvos.
- Como sabem? - disse o professor de matemática-, nunca viram um anjo.
-Ah! mas nós vimos, em sonhos - responderam as crianças; e o professor de matemática franziu as sobrancelhas, com semblante muito severo, pois não aprovava que crianças sonhassem.
Uma noite, voou sobre a cidade uma pequena andorinha. Suas companheiras tinham partido para o Egito seis semanas antes, mas ela ficou pra trás porque estava apaixonada pelo mais belo junco. Ela o conheceu no príncipio da primavera, enquanto voava rio abaixo atrás de uma mariposa amarela, e ficou tão atraída por aquela figura esquia, que parou pra falar-lhe.
- Poderei amá-lo? - disse a andorinha, que gostava de ir direto ao assunto, e o junco fez-lhe uma reverência. Então voou ao seu redor, tocando a água com as asas, provocando ondulações prateadas. Era sua maneira de fazer a corte, que durou o verão inteiro.
É uma relação ridícula - chilchearam as outras andorinhas -, ele não tem dinheiro, e tem parentes demais - e na verdade o rio estava bem cheio de juncos. quando veio o outono, voaram para longe.
Depois que partiram, andorinha sentiu-se solitária e começou a cansar-se de seu amado. - Ele é de pouca conversa, e temo que seja galanteador, porque está sempre flertando com a brisa. E, certamente, toda vez que a brisa soprava, o junco fazia as mais graciosas mesuras. - Reconheço que seja caseiro - continuou -, mas adoro viajar, e meu marido, consequentemente, também deveria gostar de viagens.
- Virá comigo? - disse finalmente a ele; mas o junco meneou a cabeça, tão arraigado estava a seu lar.
- Só estava gracejando comigo - disse ela. -Vou para as pirâmides. Adeus! - e se foi.
O dia todo ela voou, e de noite chegou à cidade. - Onde pernoitarei? Espero que a cidade esteja preparada para me abrigar.
Então viu a estátua sobre a alta coluna, e disse:
- Vou me acomodar ali, é um lugar muito bem localizado, com bastante ar fresco. - Assim, pousou entre os pés do príncipe feliz.
- Tenho um aposento de ouro - disse baixinho para si, olhando ao redor, e preparou-se para dormir; mas no momento em que colocava a cabeça sob a asa, uma enorme gota de água caiu sobre ela. - Que estranho! não há uma única nuvem no céu, as estrelas estão brilhando e, entanto chove. O clima no Norte da Europa é mesmo horrível. O junco gostava de chuva, mas isso era puro egoísmo dele.
outra gota caiu.
- Qual a utilidade de uma estátua, se não serve para proteger da chuva? Tenho que procurar uma boa chaminé - disse ela, e decidiu ir embora.
Mas antes que abrisse as asas, uma terceira gota caiu, ela levantou os olhos e viu... Ah! o que ela viu?
Os olhos do príncipe feliz estava cheios de lágrimas, e lágrimas corriam em suas faces douradas. Seu rosto era tão belo sob o luar que a pequena Andorinha encheu-se de compaixão.
- Quem é você?  disse ela.
- Sou o príncipe feliz.
Por que está chorando então? - perguntou a andorinha. - Encharcou-me completamente.
-Quando era vivo e tinha um coração humano - respondeu a estátua -, eu não sabia o que eram lágrimas, pois vivia no Palácio de Sans-Souci, onde à tristeza não é permitido entrar. Durante o dia, brincava com meus companheiros no jardim, e à noite conduzia a dança no grande salão. Em volta do jardim havia um muro muito alto, mas nunca me importei em saber em saber o que existia além dele, pois tudo ao meu redor era tão lindo. Meus cortesãos chamavam-me príncipe feliz, e feliz em verdade eu era, se o prazer é felicidade. Assim vivi e assim morri. E agora que estou morto, colocaram-me aqui tão alto que posso ver a feiúra e toda a miséria de minha cidade e, embora meu coração seja de chumbo, não posso fazer outra coisa senão chorar.
O quê? Ele não é de ouro maciço? - disse a andorinha para si. Era muito educada para fazer comentários pessoais em voz alta.
- Longe - continuou  a estátua com sua voz baixa e musical -, muito longe numa rua estreita, há uma casinha pobre. Uma janela está aberta e vejo uma mulher sentada à mesa. Tem o rosto magro e abatido, e as mãos ásperas, picadas pela agulha, pois é costureira. Está bordando flores-da-paixão num vestido de cetim para a mais adorável dama de honra da rainha vestir no próximo baile da corte. Num leito, no canto do quarto, está deitado seu filho doente.Tem febre, e pede laranjas. A mãe não tem nada para dar-lhe, exceto água do rio, e por isso ele está chorando. Andorinha, andorinha, pequena andorinha, não quer levar-lhe o rubi do cabo de minha espada? Meus pés estão presos a este pedestal e não posso me mover.
- Esperam-me no Egito - disse a andorinha. - Minhas amigas estão voando sobre o Nilo, conversando com as flores de lótus. Em breve vão dormir na tumba do grande rei. O próprio rei está ali, em seu sarcófago coberto de adornos. Está enrolado em linho amarelo e embalsamado com especiarias. Em seu pescoço há um colar de jade verde-pálido, e suas mãos são como folhas secas.
- Andorinha, andorinha, pequena andorinha - disse o príncipe -, não quer ficar comigo por uma noite, e ser minha mensageira? O menino está com tanta sede, e a mãe tão triste...
- Acho que não gosto de meninos - respondeu a Andorinha. - No verão, quando eu estava no rio, havia dois meninos rudes, os filhos do moleiro, que estavam sempre atirando pedras em mim. Nunca me acertaram, é claro; nós andorinhas voamos bem demais para que nos acertem, e venho de uma família famosa pela agilidade; ainda assim, foi um sinal de desrespeito.
Mas o príncipe feliz parecia tão triste que a andorinha se condoeu:
- Está muito frio aqui, mas ficarei com você por um noite, e serei sua mensageira.
- Muito obrigada, andorinha - disse o príncipe.
Então a andorinha tirou o enorme rubi da espada do príncipe e voou, levando-o no bico por sobre os telhados da cidade.
Passou pela torre da catedral, onde anjos de mármore branco estavam esculpidos. Passou pelo palácio e ouviu o rumor da dança. Uma jovem formosa apareceu na sacada com su namorado.
- Como estão maravilhosas as estrelas - disse ele - e como é maravilhoso o poder do amor!
- Espero que meu vestido fique pronto a tempo a tempo para o baile do Estado - respondeu a jovem. - Mandei que bordassem flores-da-paixão nele, mas as costureiras são tão preguisosas!
A andorinha passou sobre o rio, e viu as lanteranas penduradas nos mastros dos navios. Passou sobre o gueto e viu velhos judeus negociando entre si, pesando dinheiro em balanças de cobre. Finalmente, chegou à casa pobre e espiou. O menino agitava-se febrilmente no leito, e a mãe caíra no sono, tão cansada estava. saltou para dentro e deixou suavemente o grande rubi sobre a mesa, ao lado do dedal. Então voou suavemente em volta do leito, abanando a fronte do menino com as asas.
- Sinto-me refrescar - disse o menino -, acho que estou melhorando - e mergulhou num sono delicioso.
Então a andorinha voltou ao príncipe feliz, e contou-lhe o tinha feito.
- Engraçado - observou ela -, mas agora sinto calor, embora esteja tão frio.
- É porque praticou uma boa ação - disse o príncipe. E a pequena andorinha começou a pensar, adormecendo logo em seguida. Pensar sempre a fez ficar com sono.
Quando o dia raiou, ela voou ao rio e tomou um banho.
- Que fenômeno notável - disse o professor de ornitologia ao passar pela ponte. - Uma andorinha no inverno! -E  escreveu uma longa carta sobre isso no jornal local. Todos a citavam, porque estava cheia de palavras que não compreendiam.
Esta noite parto para o Egito - disse a andorinha, bastante animada com a perspectiva. visitou todos os monumentos públicos, e ficou posada um longo tempo no topo do campanário da igreja. Onde quer que fosse, os pardais aplaudiam, dizendo uns aos outros:
- Que estrangeira distinta! - E ela se divertiu bastante com isso.
Quando a lua surgiu, voltou ao príncipe feliz e disse:
- Tem alguma encomenda para o Egito? Já estou partindo.
- Andorinha, andorinha, pequena andorinha - disse o príncipe -, não quer ficar comigo mais um noite?
- Esperam-me no Egito- respondeu a andorinha - Amanhã minhas amigas voarão até a segunda catarata. Os hipopótamos deitam-se ali entre os caniços, e num grande trono de granito está sentado o deus Memnon. Durante a noite ineira ele contempla as estrelas, e quando brilha a estrela da manhã, ele amite um canto de alegria e depois silencia. Ao meio dia os leões vêm à margem das águas para beber. Têm olhos que se parecem com berilos verdes, e seus rugidos são mais estrondosos do que o rugir das cataratas.
- Andorinha, andorinha, pequena andorinha - disse o príncipe -, longe, no outro lado da cidade, vejo um jovem numa água furtada. Está debruçado sobre uma mesa coberta de papéis, e num copo ao seu lado há um maço de violetas murchas. seu cabelo é castanho e crespo, seus lábios são vermelhos como a romã, e tem olhos grandes e sonhadores. Ele tenta terminar um peça para o diretor do teatro, mas sente muito frio para continuar escrevendo. Não há fogo no fogão, e a fome o enfraqueceu.
- Ficarei com você mais um noite - disse a andorinha, que no fundo tinha um bom coração. - Devo levar-lhe outro rubi?
- Ai de mim! Não tenho mais rubis - disse o príncipe -; meus olhos são tudo o que me resta. São feitos de safiras preciosas, trazidas da Índia há mil anos. Arranca um delas e leva ao jovem. Ele a venderá ao joalheiro, comprará comida e lenha, e terminará a peça.
- Caro príncipe - disse a andorinha -, não posso fazer isso - e começou a chorar.
- Andorinha, andorinha, pequena andorinha - disse o príncipe - faça o que lhe ordeno.
Então a andorinha arrancou o olho do príncipe e voou até a água furtada do estudante. Era muito fácil entrar já que havia um buraco no telhado. Arremessou-se através dele e entrou no quarto. O jovem tinha a cabeça enterrada nas mãos, e não viu o bater das asas; quando levantou os olhos, encontrou a bela safira pousada sobre as violetas murchas.
- Começo a ser apreciado. Isto de ve ser de algum adimirador. Agora posso terminar minha peça - gritou, parecendo muito contente.
No dia seguinte, a andorinha foi ao porto. Pousou no mastro de uma grande embarcação e observou os marinheiros puxando caixas enormes do porão do navio. - Upa! - gritavam eles a cada caixa que levantavam.
- Vou para o Egito! - bradou a andorinha, mas ninguém lhe deu atenção, e quando a lua surgiu, voou até o príncipe feliz.
- Vim para dizer-lhe adeus.
- Andorinha, andorinha, pequena andorinha - disse o príncipe -, não quer ficar comigo por mais um noite?
- É inverno - respondeu - e a neve fria logo vai chegar. No Egito o sol é quente sobre as palmeiras, e os  crocodilos deitam-se na lama e olham preguisoçamente ao redor. Minhas companheiras estão construindo um ninho no templo de Baalbec, e as pombas rosadas as observam, arrulhando entre si. Caro príncipe, tenho que deixá-lo, mas nunca o esquecerei; e na próxima primavera trarei duas lindas jóias para substituir as que doou. O rubi será mais rubro que a rosa vermelha, e a safira tão azul quanto o imenso oceano.
- Na praça logo abaixo - disse o príncipe feliz - há uma pequena vendedora de fósforos. Ela os deixou cair na sarjeta, e estão todos estragados. Seu pai baterá nela se não levar dinheiro para casa, e por isso ela está chorando. Não tem sapatos nem meias, e sua cabecinha está descoberta. arranca meu outro olho e leva-lhe, para que seu pai não a maltrate.
- Ficarei com você mais um noite - disse a andorinha -, mas não posso arrancar outro olho. Você ficcaria completamente cego.
- Andorinha, andorinha, pequena andorinha - disse o príncipe -, faça o que lhe ordeno.
Ela arrancou então o outro olho do príncipe e alçou vôo. Precipitou-se sobre a vendedora de fósforos e deixou cair a jóia na palma de sua mão.
- Que lindo pedacinho de vidro - disse ela, e correu para casa sorrindo.
A andorinha voltou ao príncipe e disse:
- Está cego agora; então ficarei com você para sempre.
- Não, pequena andorinha - disse o príncipe -, deve partir para o Egito.
- Ficarei com você para sempre - disse a andorinha, e adormeceu aos pés do príncipe.
Durante todo o dia seguinte, ficou pousada no ombro do príncipe, e contou-lhe histórias sobre coisas que viu em terras estranhas. falou-lhes sobre íbis vermelhos, que postavam em longas fileiras em margens do Nilo, apanhando peixes dourados com os bicos; sobre a Esfinge, que é tão antiga quanto o próprio mundo, vive no deserto e tudo sabe; sobre os mercadores, que caminham vagarosamente ao lado de seus camelos e levam contas de âmbar nas mãos; sobre o rei das montanhas da Lua, que é negro como o ébano e cultua um imenso cristal;sobre a grande serpente verde, que dorme numa palmeira e tem vinte sacerdotes para alimentá-la com bolos de mel; e sobre os pigmeus que navegam sobre um grande lago em largas folhas e que estão sempre em guerra com as borboletas.
- Querida andorinha - disse o príncipe -, você me conta coisas espantosas, mas mais espantoso é o sofrimento de homens e mulheres. não há mistério maior que a miséria. Voe por sobre minha cidade, pequena andorinha, e conte-me oque vir por lá.
Assim, a andorinha voou sobre a grande cidade e viu ricos divertindo-se em suas residencias luxuosas, enquanto os mendigos sentavam-se em frente aos portões. Voou por becos escuros e  e viu os rostos pálidos das crianças esfaimadas, olhando apaticamente para as ruas sombrias. Sob o arco de um ponte estavam deitados dois meninos, abraçados um ao outro, tentando manter-se aquecidos.
- Temo tanta fome! - diziam os meninos.
- Vocês não podem ficar aqui - gritou o guarda noturno, e eles se retiraram, vagando sob a chuva.
Então a andorinha voltou e contou ao príncipe o que tinha visto.
- Sou coberto de ouro puro - disse o príncipe -, você deve tirá-lo folha por folha, dá-lo aos meus pobres; os vivos sempre acham que ouro pode fazê-los felizes.
Folha após folha de puro ouro a andorinha arrancou, até que o príncipe feliz ficasse fosco e acinzentado. Folha após folha de puro ouro levou aos pobres, e os rostos das crianças tornaram-se mais rosados, e elas riam e brincavam na rua.
- Agora temos pão - gritavam as crianças.
Então veio a neve, e depois da neve, a geada. As ruas pareciam feitas de prata, de tão luminosas e brilhantes; pontas de gelo, longas como adagas de cristal, pendiam dos beirais das casas; todos passavam vestindo casacos de pele, e as crianças usavam gorros escarlate, patinando sobre o gelo.
A pobre andorinha sentia cada vez mais frio, mas não queria deixar o príncipe, pois o amava muito. Apanhava as migalhas à porta do padeiro quando ele não estava olhando, e tentava se aquecer agitando as asas.
Mas por fim sentiu que iria morrer. Mal tinha forças para voar uma vez mais ao ombro do príncipe.
- Adeus, querido príncipe - murmurou -, deixa-me beijar suas mãos?
-Fico contente que vá para o Egito afinal, pequena andorinha -, disse o príncipe. - Ficou muito tempo aqui, mas deve beijar-me os lábios, pois a amo.
- Não é para o Egito que vou - disse a andorinha. - Vou para a casa da morte. A morte é irmã do sono, não é mesmo?
Então beijou o príncipe feliz nos lábios e caiu morta aos seu pés.
Naqule momento, um estranho estlo soou dentro da estátua, como se algo se tivesse quebrado. A verdade é que o coração de chumbo despedaçou-se em dois. Era certamente um geada terrível.
Na manhã seguinte, bem cedo, o prefeito caminhava na praça em companhia dos conselheiros da cidade. Ao passar pela coluna, olhou para a estátua:
- Meu Deus que aspecto miserável tem o príncipe feliz! - disse ele.
- Muito miserável, realmente - disseram os conselheiros da cidade, que sempre concordavam com o prefeito. - Na verdade, é pouco mais que um mendigo!
- Pouco mais que um mendigo - disseram os conselheiros da cidade.
E há até um passáro morto aos seus pés! - continuou o prefeito. - Devemos emitir um decreto que proíba os passáros de morrerem aqui. - E o secretário da cidade anotou a sugestão.
Então, puseram abaixo a estátua do príncipe feliz. - Como já não é belo, já não é mais útil - disse o professor de Arte na universidade.
Assim, fundiram a estátua numa fornalha e o prefeito convocou uma reunião com a corporação, para decidir o que seria feito do metal.
- Naturalmente precisamos ter outra estátua - disse ele -, e será com minha imagem.
- Com miha imagem - disse cada um dos conselheiros da cidade, e começaram a discutir. Da última vez que soube deles, ainda estavam discutindo.
- Que coisa estranha! - disse o contramestre da fundição. - Este coração de chumbo não derrete na fornalha. Vamos jogar fora. - Assim, jogaram-no em um monte de lixo onde estava também a andorinha morta.
-Traz-me as duas coisas mais preciosas da cidade - disse Deus a um de seus anjos; e o anjo trouxe-Lhe o coração de chumbo e o pássaro morto.
- Escolheste muito bem - disse Deus -, pois no jardim do Paraíso este passarinho cantará eternamente, e em minha cidade dourada, o príncipe feliz me louvará.

sábado, 27 de novembro de 2010

Quartoze definições para Clássicos segundo Ítalo Calvino


1. Os clássicos são aqueles livros dos quais, em geral, se ouve dizer: "Estou relendo...” e nunca "Estou lendo...”

(... não vale para a juventude, idade em que o encontro com o mundo e com os clássicos como parte do mundo vale exatamente enquanto primeiro encontro.)

Então, outra definição...

2. Dizem-se clássicos aqueles livros que constituem uma riqueza para quem os tenha lido e amado; mas constituem uma riqueza não menor para quem se reserva a sorte de lê-los pela primeira vez nas melhores condições para apreciá-los.

(... as leituras da juventude podem ser pouco profícuas pela impaciência, distração, inexperiência das instruções para o uso, inexperiência da vida. Podem ser (talvez ao mesmo tempo) formativas no sentido de que dão uma forma às experiências futuras, fornecendo modelos, recipientes, termos de comparação, esquemas de classificação, escalas de valores, paradigmas de beleza: "todas, coisas que continuam a valer mesmo que nos recordemos pouco ou nada do livro lido na juventude. Relendo o livro na idade madura, acontece reencontrar aquelas constantes que já fazem parte de nossos mecanismos interiores e cuja origem havíamos esquecido.)

Sendo assim...

3. Os clássicos são livros que exercem uma influência particular quando se impõem como inesquecíveis e também quando se ocultam nas dobras da memória, mimetizando-se como inconsciente coletivo ou individual.

(Por isso, deveria existir um tempo na vida adulta dedicado a revisitar as leituras mais importantes da juventude.)

Dessa forma...

4. Toda releitura de um clássico é uma leitura de descoberta como a primeira.

5. Toda primeira leitura de um clássico é na realidade uma releitura.

6. Um clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer.

7. Os clássicos são aqueles livros que chegam até nós trazendo consigo as marcas das leituras que precederam a nossa e atrás de si os traços que deixaram na cultura ou nas culturas que atravessaram (ou mais simplesmente na linguagem ou nos costumes).

(A leitura de um clássico deve oferecer-nos alguma surpresa em relação à imagem que dele tínhamos... E mesmo esta é uma surpresa que dá muita satisfação)

8. Um clássico é uma obra que provoca incessantemente uma nuvem de discursos críticos sobre si, mas continuamente “as repele para longe.

9. Os clássicos são livros que, quanto mais pensamos conhecer por ouvir dizer, quando são lidos de fato mais se revelam novos, inesperados, inéditos.

(Naturalmente isso ocorre quando um clássico (...) estabelece uma relação pessoal com quem o lê.)  

Então...

10. Chama-se de clássico um livro que se configura como equivalente do universo, à semelhança dos antigos talismãs.

(Mas um clássico pode estabelecer uma relação igualmente forte de oposição, de antítese)

Portanto...

11. O  "seu" clássico é aquele que não pode ser-lhe indiferente e que serve para definir a você próprio em relação e talvez em contraste com ele.

("Por que ler os clássicos em vez de concentrar-nos em leituras que nos façam entender mais a fundo o nosso tempo?" e "Onde encontrar o tempo e a comodidade da mente para ler clássicos, esmagados que somos pela avalanche de papel impresso da atualidade?")

12. Um clássico é um livro que vem antes de outros clássicos; mas quem leu antes os outros e depois lê aquele, reconhece logo o seu lugar na genealogia 

 13. É clássico aquilo que tende a relegar as atualidades à posição de barulho de fundo, mas ao mesmo tempo não pode prescindir desse barulho de fundo.

14. É clássico aquilo que persiste como rumor mesmo onde predomina a atualidade mais incompatível.


Enfim...

A única razão que se pode apresentar é que ler os clássicos é melhor do que não ler os clássicos.
 
 Fonte: Por que ler os clássicos - Ítalo Calvino  (Tradução de Nelson Moulin) Companhia das letras, 2007.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Caçadas de Pedrinho

"Dos moradores do sítio de Dona Benta o mais andejo era o Marquês de Rabicó. conhecia todas as florestas, inclusive o Capoeirão dos Taquaruçus, mato muito cerrado onde Dona Benta não deixava que os meninos fossem passear. Certo dia em que Rabicó se aventurou nesse mato em procura das orelhas-de-pau que crescem nos troncos podres, parece que as coisas não lhe correram muito bem, pois voltou na volada.
- Que aconteceu? perguntou Pedrinho ao vê-lo chegar todo arrepiado e com os olhos cheio de susto. - Está com cara de Marquês que viu onça...
- Não vi, mas quase vi! respondeu Rabicó tomando fôlego. - Ouvi um miado esquisito e dei com uns rastos mais esquisitos ainda. Não conheço onça, que dizem ser um gatão assim do tamanho de um bezerro. Ora, o miado que ouvi era de gato, mas muito mais forte, e os rastos também eram de gato, mas muito maiores. Logo era onça..."

Assim começa a aventura dos meninos do Sítio do Picapau Amarelo em busca de uma onça... onde deixam a bicharada numa confusão danada e Dona Benta e Tia Nastácia com os nervos à flor da pele...

Uma turma toda especial... Pedrinho o menino que só tem medo de vespa! rsrs... Narizinho, uma menina aventureira... Visconde de Sabugosa, todo científico... Emília, uma boneca asneirenta... Dona Benta, uma avó espirituosa e cuidadosa... Tia Nastácia, uma senhora devotada aos meninos e a sua cozinha... e ainda o Marquês de Rabicó com tosas as suas gulodices. 

Não há como ler essa obra e não ficar fascinado por essa turma acompanhando cada passo de suas aventuras que quando terminam... já tem outra... agora o plano é uma caçada a um rinoceronte! - Pelos céus! eu pensei quando estava lendo... e, claro, torcendo para que tudo desse certo... e deu!

As façanhas de Emília, a esperteza e coragem de Narizinho e Pedrinho contribuíram para que o rinoceronte se tornasse mais um membro da família... e Dona Benta e Tia Nastácia se tornaram como as crianças, felizes apreciando os prazeres que a companhia do rinoceronte oferecia...

Nenhuma criança brasileira - ou tantas outras que tiverem a ventura de conhecer essa obra, deveria ser privada do prazer de ler Caçadas de Pedrinho... que não deixa de ser uma fortuna também para os adultos.

Admiro o Gênio de Lobato, pois, mais do que apresentar o racismo existente na sociedade em que viveu, muito longe de incentivar uma prática ecologicamente incorreta, ele usa a palavra e as ideias com arte, cria um cenário tipicamente brasileiro, mas cheio de estilo e sofisticação, posicionando a criança numa esfera de mundos fantasiosos cheio de imaginação e criatividade... conferindo a ela um pensamento infantil, mas rebuscado, ou seja, apostando na inteligência da criança o que diverge da ingenuidade e arrogância pueril que um leitor atento percebe em algumas obras que certos escritores dedicam ao público infantil.

A criança brasileira tem uma literatura riquíssima para apreciar... tomara que se deem conta disso...



terça-feira, 9 de novembro de 2010

Os mundos dos Livros

"Ah, desejar que o que não é seja, fora da página de um livro!" Philip Roth


Os mundos dos livros, por vezes, se classificam no fantástico e maravilhoso por sua característica incomum de apresentar aos seus leitores histórias, pensamentos e ideias inusitadas que cabem perfeitamente nas páginas... mas, e fora delas? Ahhh... aqui entra o suspiro de Zuckerman - personagem de Roth em Fantasma sai de cena: "Ah, desejar que o que não é seja, fora da página de um livro!" 


sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Livros para sanduíche


Não, não é de livros de receita que irei falar... pelo menos não dessa vez! não peço que entenda metáforas; não agora! leia ao pé da letra mesmo... (sempre que falo nisso lembro de Timão e Pumba da Disney). Bom... isso deverá ao menos dar-lhe uma sensação interessante ao ver essa imagem... eu confesso que senti uma vontade enorme de um sanduíche...unhun!!! 



Sabe, o universo da publicidade e propaganda tende muito ao criativo, sem mencionar a esperteza né? pois quem não fica mesmo com vontade de ir na lanchonete mais próxima possível e ainda dar uma passadinha na livraria ou acessar as lojas virtuais como a submarino pra comprar imediatamente livros como esses pra nossa estante e para saciar a curiosidade que nos é despertada sobre as propriedades desses alimentos que compõem o tão conhecido e apreciado sanduíche?


Essa imagem eu exportei da coluna do Galeno Amorin na Revista eletrônica Observatório do Livro e da Leitura da Agência de Notícias Brasil que lê que recebo semanalmente na minha caixa de e-mail. Se quiser conferir esse é o link: http://www.blogdogaleno.com.br/texto_ler.php?id=8968&secao=4

É claro que essa seção iria me chamar à atenção... os Livros sempre me chamam à atenção... independente de qual estado e situação em que se apresentem... e ligando-se a isso ontem fui apresentada a um livro interessante sobre as propriedades e uso medicinal dos vegetais, ervas e frutas; e assisti a uma palestra sobre como se manter um hábito de alimentação saudável... confesso que descobri alguns segredos sobre o potencial da tomate, do alface entre outros vegetais e frutas... citei esses particularmente por fazerem parte do nosso sanduíche... vamos lá não me diga que não está curioso(a) também?
Bom... fui ali na minha estante e peguei os livros "As hortaliças na Medicina Natural" de A. Balbach - D. Boarin... um livrinho já meio que desgastado mas  que gosto e um outro (edição resumida) que ganhei há uns aninhos atrás como brinde de Seleções do Readers Digest intitulado "Segredos e Virtudes das Plantas Medicinais" que assim como o outro já me foi bastante útil.


São os livros para a cozinha... Sempre pensei que o ato da leitura de um bom livro se parece bastante com a degustação de um delicioso prato, assim como, alguns livros podem trazer energia psiquica... enquanto outros podem até causar náuseas... já comecei a ler um assim e desisti, tanto por ser intragável como pelo fato de não ter encontrado propriedades vitamínicas úteis ao meu espírito e alma.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

À mesa com os livros


Já li muitos livros em que vez por outra uma comida ou bebida está lá nos deixando com água na boca... poderia mencionar os livros de Monteiro Lobato cheio de seus bolinhos de chuvas... quem já não foi levado a ir a cozinha preparar um bocado desses depois de ler uma daquelas histórias maravilhosas em que a Tia Nastácia generosamente sacia a gulodice dos meninos do Sítio do Picapau Amarelo e até mesmo o Minotauro de Creta, que se torna um viciado neles?



O célebre chá que nunca sabemos quando começou e se teve final da Lebre Maluca de Alice no País das maravilhas... e tantos outros chazinhos livro a dentro também são bons exemplos de provocativos de apetites culinários e literários!



Se fosse mencionar todos os aperitivos, pratos e alimentos mencionados na literatura veríamos que sua presença perpassa desde a abastança percebidas nas salas de jantar das deslumbrantes famílias inglesas apresentadas por Jane Austen até a mesquinhez de um Sr. Grandet apresentado por Balzac contrastando com seus vinhos preciosos, chegando em Dickens onde as necessidades alimentares saltam dos livros provocando lágrimas.



Estive a ler Emma de Jane Austen e então comecei a notar a fartura nas ceias e jantares e como esses trechos estão sempre a nos levar a crer que estamos quase a nos servir do bolo do casamento da Sra. Weston, a saborear os morangos da propriedade do Sr. Knightley... provar aquelas maçãs assadas... gostaria de poder aceitar os pequenos pedaços de torta de maçãs que o Sr. Woodhouse oferece a Sra. Bates...e a achar que não teria dificuldades em acompanhar-lhe no seu mingau.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Vídeos clips

Numa espécie de propaganda de livros na sua maioria clássicos os livros clips do site www.livroclip.com.br são bem interessantes no que diz respeito ao convite a leitura... pra quem precisa de um incentivo para ler os clássicos e/ou até mesmo para os que curtem esse tipo de literatura... é como uma sinopse do livro, só que em clipe... é legal!

Confiram o jogo com curiosidades sobre Machado de Assis e o clip sobre o livro Dom Quixote de La Mancha logo ao lado...

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

"Não há melhor fragata do que um livro para nos levar a terras distantes" Emily Dickinson

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Ontem eu citei o livro de Ítalo Calvino: Se um viajante numa noite de inverno, comentando meu encontro e minha predileção sobre o mesmo e hoje me deparei com fotografias com escultura feitas em livros e que me trouxe de volta a ele.
Quem leu o livro deve lembrar daquele personagem que não queria aprender a ler porque tinha preguiça antecipada da possibilidade de ter de ler as letras que encontrasse em sua frente; mas o interessante é que mesmo assim descobre uma utilidade, a seu modo, claro, para os livros que encontra - embora as vezes leve-os a uma transformação nada agradável a quem gosta do livro para leitura; e faz com eles esculturas, mesmo a contragosto de sua namorada (pra quem ainda não leu, ele pega os livros da namorada escondido para fazer a sua arte!)
O curioso dessa parte da história que se desdobra e se multiplica em muitas outras é que o livro está presente na vida de toda a gente do enredo e Calvino faz nós sentirmos a influência de seu livro em nós também colocando-nos como personagem do mesmo. E cada um encontra seu motivo para amar os livros! Isso é fantástico!


Essa escultura de autoria da artista inglesa Su Blackwell, a meu ver uma obra prima, é um exemplo da criatividade artistica que os livros são capazes de inspirar.

fonte da imagem e para visualisar mais http://www.zupi.com.br/index.php/site_zupi/view/esculturas_de_livros/

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Caminhos...

O Título desse blog baseado numa citação de J.L.Borges que diz: "Todos os caminhos conduzem a um encontro ou um livro" me ocorreu pelo fato de ser uma figura de linguagem criativa condizente com os surpreendentes encontros que ora por outra a vida nos presenteia com Livros Fascinantes ou emoções que suas páginas encerram... Todos nós temos aquele livro cuja descoberta dele foi marcante... Pra mim o livro cujo encontro casual ou destinado - como queiram, foi inesquecível foi Se um viajante numa noite de inverno de Ítalo Calvino... descobri Calvino com esse livro e o consagrei em minha predileção eterna!
Descobri hoje em minhas pesquisas aqui na net que pra quem mora na Cidade do Kansas (Missouri - USA) ou quem por lá passa... é possível ler essa frase ao pé da letra mesmo... Veja isso:


Essa é a fachada da Biblioteca da cidade. 
E se ali tiver o título do seu livro predileto?
A gente costuma entrar figuradamente dentro de um livro...e como será entrar literalmente? Se nos meus caminhos da vida estiver essa avenida eu quero pensar que estou mesmo entrando em Livros!!!

sábado, 18 de setembro de 2010

Intertextualidade entre Borges e Victor Hugo.

O conto A Biblioteca de Babel que postei alguns trechos aqui e cuja fonte ficou ilegível ... corrijo: é da obra Ficções de Jorge Luis Borges. E hoje á vez de transcrevermos aqui as palavras de Vitor Hugo em seu engrandecimento ao Livro. Esse trecho é da obra O corcunda de Notre-Dame:

"...o gênero humano tem dois livros, dois registros, dois testamentos: a arquitetura e a imprensa, a bíblia de pedra e a bíblia de papel. Sem dúvida, quando se contemplam essas duas bíblias tão largamente abertas nos séculos, é permitido ter saudades da majestade vísivel da escritura do granito, esses gigantescos alfabetos formulados em colunatas, em pórticos, em obeliscos, essas espécies de montanhas humanas que cobrem o mundo e o passado, desde a pirâmide até o campanário, de Quéops até Estrasburgo. É preciso reler o passado sobre essas páginas de mármore. É necessário adimirar e folhear incessantemente o livro escrito pela arquitetura, mas não se deve negar a grandeza do edifício que, por seu turno a imprensa ergue.
Esse edifício é colossal. Não sei que fazedor de estatísticas calculou que pondo uns sobre os outros todos os volumes saídos do prelo desde Gutenberg se encheria o intervalo da Terra à Lua; mas é dessa espécie de grandeza que queremos falar. Quando se procura recolher no pensamento uma imagem total do conjunto dos produtos da imprensa até os nossos dias, esse conjunto não se nos antolha como uma imensa construção, apoiada sobre o mundo inteiro, na qual a humanidade trabalha sem repouso, e cuja cabeça monstruosa se perde nas brumas profundas do futuro? É o formigueiro das inteligências. É a coméia onde todas as imaginações, essas abelhas douradas, vão depor o seu mel. O edifício tem mil andares. Aqui e ali vê-se desembocar sobre suas rampas as tenebrosas cavernas da ciência que se entrecuaram nas suas entranhas... Aí cada obra individual, por caprichosa e isolada que pareça, tem o seu lugar e a sua projetura. A harmonia resulta do todo... É a segunda torre de Babel do gênero humano." p. 178-9.

O que está mais destacado aqui em Victor Hugo é a magestade da inteligência humana e as maneiras que usa para perpetuá-la...sabemos que desde os primórdios a humanidade deu um jeito em deixar seus registros... veja-se que esse romance histórico foi lançado, segundo Wikipédia, no ano de 1832 e suas estatísticas asseguravam que a quantidade de livros impressos encheria o intervalo entre a Terra e a Lua... e aí ele e Borges se encontram em um só pensamento: A segunda Torre de Babel do gênero humano. O que diria Victor Hugo se pudesse prever ou ter subsistido até os nossos dias? ou seja dois séculos depois... o número de livros impressos com certeza cresceu diria ele... e poderia preencher o espaço entre a Terra e... mas aí ele lembrou que a revolução tecnológica deteu o poder de miniaturizar em arquivos compactos e eletrônicos as obras escritas porque não havia mais espaço entre a Terra e Lua ... então a Humanidade criou outro mundo para edificar os seus livros... pensaria ele... o homem tem o dom da construção!

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

O universo

"O Universo (que outros chamam a Biblioteca) é composta de um número indefinido, e talvez infinito, de galerias hexagonais, com vastos poços de ventilação no meio, cercados por balaustradas baixíssimas... Eu afirmo que a Biblioteca é interminável...''Não há na vasta biblioteca dois livros idênticos'... Quando se proclamou que a Biblioteca abrangia todos os livros, a primeira impressão foi de extravagante felicidade. Todos os homens se sentiram senhores de um tesouro intacto e secreto. Não havia problema pessoal ou mundial cuja eloquente solução não existisse: em algum hexágono. o universo estava justificado, o universo bruscamente usurpou as dimensões ilimitadas da esperança...Os que o imaginam sem limites esquecem que não é ilimitado o número possível de livros. Eu me atrevo a insinuar esta solução do antigo problema: 'A Biblioteca é ilimitada e periódica'. Minha solidão se alegra com essa elegante esperança." Jorge Luis Borges


Comparar o Universo com Biblioteca ou vice-versa soa como uma metáfora tão bonita que basta o conto (A Biblioteca de Babel) por si mesmo para nos impressionar. As vezes temo que um comentário possa parecer insignificante perto dele; ele já parece dizer tantas coisas em sua própria linguagem que a atenta leitura já parece se encarregar de o significar... Não tenho certeza se devo, mas vou arriscar uma ligação entre esse Universo infinito de livros e o título do blog que também foi buscar inspiração em palavras do escritor.
Quando ele afirma que a Biblioteca é interminável, ilimitada, periódica e que abrange todos os livros, não dá mesmo uma sensação de felicidade? faz-nos esperar que em algum lugar do Universo existe o que estamos desejando no momento, seja uma resposta, uma nova ideia, uma emoção, uma solução... seria maravilhoso ter um livro total, e essa é uma das esperanças do contista; pelo que diz: "Rogo a aos deuses ignorados que um homem - um só, ainda que seja há mil anos! - o tenha examinado e lido." e é tão bonita sua modéstia quando continua..."Se a honra e sabedoria e a felicidade não são para mim, que sejam pra outros. Que o céu exista, embora meu lugar seja o inferno. Que eu seja ultrajado e aniquilado, mas que num instante, num ser, Tua enorme Biblioteca se justifique." Uma bela oração!

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

O Livro

"De todos os instrumentos do homem, o mais surpreendente é, sem dúvida nenhuma, o livro. " Jorge Luis Borges